quarta-feira, 11 de novembro de 2009


O leitor

No ano de 1958, na Alemanha Ocidental, em uma família da classe média, vive o jovem Michael Berg, um adolescente que de uma forma distante, comum a este estágio de sua vida, vive a rotina diária de idas e vindas a uma escola tradicional. Durante seu percurso, retornando a casa, o garoto passa mal e é socorrido por Hanna Schmitz. Após este acontecimento, depois de um longo tratamento Michael retorna para agradecer e tem uma bela surpresa ao se deparar com aquela jovem madura de silhueta inesquecível, mas ao mesmo tempo de uma força inexplicável, que sem pudor alOgum, troca suas roupas de uma forma tranqüila a sua frente.

Hanna ao sentir o olhar admirado e extasiado do jovem que a intriga permite-se viver, embora silenciosamente, uma paixão fulminante onde ele realiza a descoberta de seu próprio corpo e do corpo feminino. Em um jogo de sensualidade onde ela reveza-se como donzela amante nos momentos de prazer, ou como mãe responsável nos momentos onde questiona seus estudos e solicita a leitura preciosa de obras, onde vivencia o que escuta através dos risos, lágrimas, euforia ou tristeza, porém permitindo sempre que seus corpos se unam quase que a selar os momentos de ternura.

Para o jovem o ardente corpo da mulher amada, objeto sexual único de seu pensamento fazia parte de seu contexto diário, exclusivo, inadmissível de mudança, mas para Hanna que pouco falava e quase nada perguntava aparentemente nada mais acontecia além da satisfação do corpo, ou o prazer de uma companhia em sua vida solitária.

Misteriosamente a jovem madura desaparece, deixando o coração e o corpo do garoto em uma explosão de pensamentos e desejos que precisariam adormecer, a confusão inicial dá lugar à frustração de um sonho de adolescente.

Alguns anos depois, em 1976, o jovem Michael, agora estudante de Direito depara-se com o medo, o rancor e a vergonha ao visualizar Hanna, no banco dos réus, sendo acusada e consequentemente culpada pela morte de mais ou menos 300 mulheres, queimadas. Ela, resolve assumir a culpa por sentir-se envergonhada na condição de analfabeta, e permite-se levar a condenação por um relatório que não escreveu. Ele em um jogo de moralidade e lei, onde os papéis se confundem, não relata que a conhece e por conseqüência sabe de sua condição de analfabetismo, deixando que seu primeiro amor fosse condenado a prisão perpétua.

A vida do menino que se esforça para ser homem continua seu trajeto através de um casamento mal resolvido e do nascimento de sua filha. Após um longo tempo de espera resolve realizar a gravação de livros falados, e envia-os a Hanna, que ao recebê-los encanta-se e revive na prisão seus pensamentos de prazer ao ouvir aquela voz tão conhecida.

Ela permaneceu presa por vinte anos, e estando próximo seu momento de libertação recebeu a visita de Michael, que lhe oferece a oportunidade de refazer sua vida em um lugar tranqüilo que lhe proporcionaria uma vida melhor. A frieza de sua voz, e o desencanto que ela encontrou em seu olhar demonstra claramente o término de uma paixão. Hanna, não resiste à perda deste amor, e suicida-se.

POSICIONAMENTO CRÍTICO

Partindo de uma análise de conjuntura a trama acontece em um cenário aparentemente frio de uma família onde as relações são silenciosas e os papéis distorcidos. A ética do cuidado é bem estabelecida no papel da mãe quando se reveza nos afazeres com casa, com a família e com Michael enquanto este permanece doente, porém no momento de suas decisões em retornar para escola antes de estar totalmente restabelecido, e nos seus desaparecimentos a autoridade dos pais parece permanecer oculta

Em minha opinião, o filme “O leitor” revela um adolescente antagônico, na busca de sua identidade, com a necessidade de mostrar que pensa diferente. Suas atitudes revelam rupturas, retrocessos e reviravoltas, modificando sua personalidade até então submissa e pacata em uma pré-autonomia revelada através da presença e experiência de Hanna.

O medo de Michael torna-se presente quando Hanna desaparece, e a partir deste momento suas decisões que deveriam revelar automia, revelam inconstância e falta de determinação em não saber resolver suas situações no casamento e no amor. Parece que Michael sente a necessidade de buscar aconchego na presença da mãe, e de Hanna através dos livros falados, tornando-se assim presente mesmo no momento em que ela esta presa, o que demonstra que seus lutos não foram resolvidos.

Ao permitir que sua amada fosse presa, ele procura vestir-se da moral puritana para que não desvendem sua vida pessoal e seu envolvimento com ela, seus temores são visíveis em relação aos estereótipos de idade, relacionamento sexual e analfabetismo, diante da profissão que escolhera, porém vergonhosamente vive o arrependimento que acontece não somente no momento da condenação, mas durante muito tempo em sua vida.

O autor Bernhard Schlink associa a trama relações de poder permitindo que a resistência aconteça a partir das manobras, táticas, estratégias de sedução de Hanna, muitas vezes aceitas, contestadas ou transformadas por Michael, que também a seduzia através de suas leituras que chegavam a ser dramatizadas.

Acredito que o autor mostra também uma rede tensa de relações quando permite que os dois se reencontrem em um tribunal, lugar reverenciado pela lei e pela ordem, onde desta vez o jovem exerce um poder que nega, impede, coíbe não avança, não negocia, não sensibiliza. No meu entendimento neste momento a figura forte de Hanna despedaça-se ao não admitir sua “ignorância”, ignorância esta que não é real pois somente lhe falta o conhecimento das letras, o que com rapidez ela consegue realizar sozinha na prisão.

O suicídio a meu ver foi algo extremo, em um momento onde ela sentiu o abandono completo do amado e sentiu-se perdida em meio à mesma sociedade que já a havia condenado.

“O Leitor” é um filme que leva ao pensamento de que a justiça é diferente da lei e que o amadurecimento moral só acontece quando isto é compreendido.

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Sou estudante de pedagogia, casada, cursando o terceiro semestre, apaixonada pela educação e aprendiz permanente. Acredito que o ser humano está constantemente em construção através de suas relações e suas realizações.