terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ilha das Flores

CURSO DE PEDAGOGIA

PEDAGOGIA SOCIAL

ILHA DAS FLORES

O curta-metragem “Ilha das Flores”, de Jorge Amado, traz algumas especificidades relacionadas ao ser humano. De forma determinada ele começa com a introdução orquestral de “O Guarani”, música do maestro Carlos Gomes, tema da “Voz do Brasil”, programa da rádio Governamental que proclama o pensamento político e que tornou-se obrigatório em 1938, no governo de Getúlio Vargas. A trama social e política inicia ao som da voz do ator Paulo José, que de uma forma tranqüila, porém com emoção descreve a situações encontradas e a forma como o ser humano dotado de tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, consegue resolver suas coisas.

Os atores sociais são diversos. O senhor Suzuki, que planta seus tomates para trocá-los por dinheiro, no supermercado, junto com seus empregados; a senhora Anete, que é vendedora de perfumes, que os troca por dinheiro, e compra estes tomates para o preparo de um molho exibindo-se na ética do cuidado em relação a sua família, que se constitui em esposo e filhos. Todos com tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, logo, seres humanos.

No segundo momento, onde inicia a parte central do filme as ações e a trama social e política se modificam. O cenário anterior que oscilava entre a plantação de tomates, os locais de venda de perfume de dona Anete e sua casa, dá lugar a um novo cenário. As relações de poder e as forças de conflito geralmente acontecem em lugares distantes dos olhos humanos, e por conseqüência longe dos sentimentos do coração, é assim em Ilha das Flores, pois o nome não se relaciona em nada ao lugar. Partindo do cenário onde a luta se desenvolve, em uma particularidade de extrema miserabilidade; de um lado os atores os sociais são representados por mulheres e crianças que embora tenham um “tele encéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor, logo são humanos, não tem dinheiro e nem quem as cuide”. Do outro lado os atores sociais do poder centralizado, constituídos pelo dono dos porcos e seus empregados, ele por sua vez também possui tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, mas além de ser humano, tem dinheiro.

Quanto à relação de forças, um indicador quantitativo de uma perspectiva de gênero traria de forma esclarecedora o quanto o homem se destaca pela sociedade como detentor de poder em relação ao chamado “sexo frágil”, feminino. Esta relação de força, de domínio e de subordinação se estampa quando se percebe este grupo de mulheres e crianças que pela fome se sujeitam a recolher como animais restos de comida misturados ao lixo, que na verdade não são destinados nem mesmo aos porcos, porque não são próprios a eles, que tem seu dono, que possui dinheiro, terreno e empregados.

Perceber o conjunto de problemas que se encontra por trás da análise de conjuntura do curta-metragem “Ilha das Flores” é a ação de não somente analisar seus atores, seus cenários e seus acontecimentos, mas sim relacioná-los com os movimentos, contradições e condições que o geraram. Partindo de uma análise social e política poderia dizer que a fome é uma epidemia, dentro de uma conjuntura de políticas públicas onde a pobreza não é estrutural, e sim uma invenção histórica.

Para terminar acrescento a esta análise uma reflexão e um poema que poderão auxiliar na compreensão deste texto.

“As políticas nacionais e internacionais tem conseguido que a concentração da renda e a pobreza cresçam em ritmo acelerado, ampliando os diferentes tipos de conflitos sociais. A insegurança nascida desta organização político-sócio-econômica desvela-se nos relacionamentos precários e na perda de valores sociais que anteriormente se mostravam muito importantes.” (MANZINI – COVRE, 2004).

Dione Gauto

Professora:Simone Dorneles

Disciplina: Pedagogia Social

1 comentários:

SIMONE SILVA DORNELES disse...

Dione,
Excelente aplicação das categorias de gênero de Joan Scott e análise de conjuntura de Herbert de Souza estudadas nas disciplinas de Educação e Gênero e Pedagogia Social na interpretação desta obra cinematográfica que é uma referência internacional.
Ilha das Flores de Jorge Furtado é uma obra de ficção que denuncia desde 1988 os índices de desenvolvimento humano que fragilizam a vida de milhares de brasileiros/as excluídos/as daquilo que a ONU considera o mínimo para uma existência digna.
Parabéns,
Professora Simone

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Sou estudante de pedagogia, casada, cursando o terceiro semestre, apaixonada pela educação e aprendiz permanente. Acredito que o ser humano está constantemente em construção através de suas relações e suas realizações.